quarta-feira, 24 de junho de 2009

Meus pés dançavam ao som da triste melodia que dominava minha mente. Vi uma frase sendo escrita perto deles, mas não quis ler - acredito que fosse algo em francês. Não havia frio e, mesmo assim, eu usava três cobertores. Tive medo de fechar os olhos e encontrar os pesadelos de sempre, que já são parte de minha rotina. Enfim cedi; e sonhei.
Tudo acontecia muito rápido, como se pudesse sentir minha vontade de abrir os olhos novamente. Sonhei com luzes embaçadas por minha visão turva; com campos abertos e flores vermelhas sendo tocadas pelo vento; com uma casa simples, mas aconchegante, rodeada por árvores numa alameda sem fim; com largos chapéus de palha e seus detalhes coloridos; com uma tarde de verão onde o Sol não queimava; com pedras saltando na água mais de uma vez; com uma vida sem bens, nem posses, mas bela e, pode-se dizer, abençoada.
Acordei abruptamente, querendo sonhar mais. Sonhar com o silêncio, com perguntas, não queria respostas me assombrando. Afinal, como pode uma pessoa sofrer tanto e ser tão feliz?
O som do piano embalou meu sono – uma melodia triste, que não me faria chorar, não mais. Dormi sorrindo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ridícula

Não ter palavras ou tê-las receosas, com medo serem ditas ou escritas. É vontade de se sentir como se todo um deserto invadisse os olhos, e não como se só um grão de areia o fizesse. Não conseguir olhar para o espelho, com a certeza de que vai rir. Ser mais medíocre.
Colocar um chiado, como aquele dos rádios, no lugar do coração – nunca mais rápido, nem mais lento; vazio e sem emoção. Que existe só enquanto não parar, enquanto não for desligado.
Há de piorar se eu sofrer um pouco mais? Não creio que seja possível.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Pacífica

Em verdade, gosto da noite. Quando posso mergulhar em seu azul profundo, ao lado de peixes trissílabos que banham-se em água tônica. Passear em meio a corais de estrelas sem medo de me ferir. Enfim descansar embalada por seus lençóis quentes, calculando o tempo através de minha pulsação. Água negra e pura me cercando, sem fazer meus olhos arderem. E um oceano de cores estático, imaginário, surreal bem à minha frente, na espera para ser explorado e modelado em forma de sonho.

domingo, 7 de junho de 2009

Azul

Gosto dos dias em que sinto meu coração batendo em mais de um lugar. Gosto muito, também, de dias frios. Dos primeiros, porque posso ter certeza de que meu coração não parou. E dos frios, porque posso senti-lo quente em meu peito, o que comprova sua existência.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Andando em vão pela sala, podia ouvir o som das patas do cachorro, que corria no andar de cima, e de dois saltos ambulantes. Mesmo que o apartamento não seja grande, consigo me perder com facilidade, e as coisas úteis sempre estão escondidas quando mais preciso delas. Corro de volta para o quarto em busca de um caderno; abro uma das gavetas e encontro livros (ah, a falta que faz uma estante!) onde ele deveria estar. E a situação só fica mais tensa, uma vez que os livros, com seu doce perfume, me distraem. Demoro algum tempo para retomar meu objetivo inicial: encontrar meus curativos, feitos com papel e tinta – muita tinta.
Não são raras as vezes que me encontro com vontade de escrever, mas o choque maior costuma acontecer à noite. Então eu sangro - às vezes o bastante pra molhar o travesseiro. Acredito sofrer de verbofilia; afinal, nem papel nem tinta curaram por completo meu derramamento de palavras, embora sirvam como curativo, controlando-o e auxiliando no difícil processo de cicatrização. O problema fica ainda pior quando não os encontro e termino por sofrer um derrame, palavras a inundar minha mente, encharcando-a por completo. Nesses casos, só posso recorrer a tranqüilizantes naturais, acelerando um relógio biológico já fora de controle. E muitas vezes, torço para que palavras, idéias, sua cor e cheiro de ferro venham a invadir, também, meus sonhos.