sexta-feira, 4 de maio de 2012

Índice telefônico

Já perdi a conta de quantas vezes pensei em sumir, só para verificar se faço alguma falta, alguma diferença. Se quando eu era menor fazia meus próprios recortes, com medo de que os outros fugissem, hoje, ao tentar juntar meus pedaços, vejo que as pessoas continuam fazendo o trabalho do qual haviam sido poupadas por mim: me idealizando, recortando e, por fim, fugindo -- lenta e dolorosamente.
Eu costumava existir como cinco ou seis, mesmo sendo somente uma: a mais desconhecida, talvez até para mim. O maior problema em me aceitar como uma só (assim como sempre aceitei os outros, inteiros, com todas as imperfeições) é ter de lidar com a negligência, a frieza; com o fato de que, mesmo tentando, nunca é o bastante, nunca é suficiente. Acho que isso é o que machuca: ver o medo de outrora se concretizando -- medo que, querendo ou não, já era realidade, porque cinco ou seis incompletas só servem para cinco ou seis ocasiões; o resto é ausência, de tudo. Medo que eu fingia esquecer.

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